FACES


Faces
Residência de arte e pesquisa fotográfica realizada em Israel em fotogravura sobre metal

Regina Carmona, manipula o embate entre identidade e anonimato, construindo séries em que a imagem humana persegue a completitude para preencher o receptáculo de um vazio existencial.
Em 1994 a artista criou instalações com  areia, pedra e ferro fundido, intituladas Profano, que reproduziam um tipo de ritual tribal, comunitário, mas que eram esvaziadas de qualquer resquício de presença humana.
A partir de meados da década, Carmona partiu para o registro idiossincrático e silencioso da imagem humana.
Na descoberta de seu próprio caminho encontrou dentro de suas próprias sequencias, por afinidade e questionamento, a afirmação de uma existência sutil e mutante.
Na estrutura de seu trabalho, constrói séries como superfícies que, na repetição, se transformam silenciosa e vagarosamente, ganham novos significados através da matéria e pelo simples passar do tempo.
Em sua série Faces, reproduz as imagens de rostos humanos serigrafados em chapas de ferro oxidado por ácidos depositados em quantidades e por tempos diferentes, atribuindo à sequencia de imagens perturbamento e assombro.
As obras carregam consigo questões sobre o não reconhecimento das identidades. A quem pertencem esses rostos quase apagados sobre as pranchas metálicas? Quem são essas pessoas? No desvendar de seus traços, no foco da beleza e do estranhamento provocado por suas curavas e ranhuras específicas, essas imagens engrandecem e homenageiam a alteridade.

Katia Canton, Novissima Arte Brasileira Geração 90,  publicação
 
Regina Carmona manipulates the confrontation between identity and anonymity, constructing series in which the human image seeks wholeness in order to fill receptacle of an existential void.
In 1994 with Profane the artist created installations using sand, stones and welded iron, that reproduce a kind of community ritual that shows absolutely no trace of human presence.
Since mid 90´s Carmona dedicated herself to the idiosyncratic and silent study of the human image. Discovery her own artistic path and found within her own sequences, the affirmation of a subtle and mutating existence. The artist craft her series as if they were surfaces that silent and slowly transform themselves through repetition and gain new meanings – through the material and the simple unfolding of time.
In her series Faces, she reproduces images of human faces silk-screened on iron plates that are oxidized by acids deposited in different quantities and for different lengths of time; thus, her work conveys to the sequence of images a feeling of oddment and amazement.
The works carry questions about non recognizing identities.
To whom do these almost erased faces on the metal plates belong to? Who are these people?
In the unveiling of their lines, in the focus of the beauty and the estrangement caused by their curves and specific scratch marks, these images aggrandize and pay homage to otherness.


Exposições

Sala das Memórias, curadoria Katia Canton, Espaço ECCO 21, Brasília 2003
Heranças Contemporaneas, curadoria Katia Canton,MAC, São Paulo 1998
O Primeiro e o Unico, curadoria Marco de Andrade, MAC Paraná, Curitiba 1997

Obra do acervo do Museu de Arte Contemporanêa de São Paulo, 2002

© Regina Carmona




Catalogo Heranças Contemporaneas




Novissima Arte Contemporanea Geração 90


O PRIMEIRO E O ÚNICO, por Marco de Andrade
 
 O breve instante que separa a criação do ato criador é suficiente. A partir de então, tudo muda, tudo flui. O universo estabelece e permite que o fragmento nele se instale. Se a cultura humana age como uma força de ordem, a entropia, entretanto, desarticular esse padrão, trazendo tudo e todos de volta à desintegração original.
 A exposição dessa artista permite observar a possibilidade de atuação da arte contemporânea enquanto, problematizadora desse processo.  Regina Carmona articula e desarticula o ato criador reconstruindo seu potencial de formador de sentidos na dialética da cultura humana. Encontra uma forma original que, depois de multiplicadas, buscam alcançar uma diferenciação e individualização em relação a sua matriz primeira, pela metamorfose causada pelo tempo.
Para Regina Carmona, o metal não é matriz, mas suporte da estampa. As imagens originais são colhidas, basicamente, a partir de fotos de pessoas conhecidas e desconhecidas, que sofrem desde o início, um processo de transformação, na passagem dos vários sistemas de tratamento da imagem, tornando-se, pela granulação, aalto contraste, síntese, fantasmas que apenas indicam sua condição primeira de humanidade. Mas, mesmo seriadas numa Segunda etapa, a própria base do ferro, no processo de oxidação, vai causando alterações sensíveis, corroendo e desintegrando as formasn que, agora só permitem seu vislumbre como manchas pictóricas em alto grau de abstração. O indivíduo retorna a sua matéria, substância original, pó.
Assim, espaço e tempo, o aqui e agora, mostram-se condição única do estar no mundo, mesmo para o objeto artístico. Esse filtro da percepção humana, através do fenômeno material, possibilita ao espectador um olhar outro para as essências, conceitos e Formas do universo, verificadas como matrizes do pensamento e da idéia. A duplicidade cultura/natureza se equilibram, no momento em que a criatura humana, mesmo julgando-se a única, encontra seu espelho ou se desfaz, na busca do ser primeiro, a base do criador.